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domingo, 23 de novembro de 2014

Fantasma da inadimplência por Celso Amâncio, presidente da Agência Consumidor Popular

O fantasma da inadim-plência ronda lojas, lojistas e grandes redes. Segundo a Serasa Experian, o número de pessoas inadimplentes chegou a 57 milhões de brasileiros em 2014. Sendo que 60% dos inadimplentes têm contas mensais a pagar que custam acima de 100% de sua renda mensal.
A culpa não é dos consumidores de baixa renda, que chegaram recentemente ao mercado consumidor. Os especialistas convidados para as entrevistas dizem que falta educação financeira aos consumidores, especialmente aos mais pobres e desinformados.
Induzem, aparentemente sem má fé, os lojistas e gestores de redes que atendem grandes massas ao erro. Por que? Esses especialistas geralmente têm vínculos profissionais ou são oriundos de organizações financeiras focadas exclusivamente na oferta de crédito, sem se preocupar com a realidade dos clientes que assumirão as prestações.
O resultado é que transformaram os consumidores das classes C, D e E em vítimas destes predadores financeiros que não estão nem aí para esse negócio de educação financeira.
São profissionais treinados e incentivados a “alcançar metas a qualquer custo”, sem nenhum constrangimento em “empurrar” o crédito que agora se transforma em inadimplência.
Na agressiva oferta de crédito, os lojistas e até mesmo as grandes redes foram cooptados por grandes instituições financeiras e se tornaram dependentes e os principais canais de aliciamento de consumidores que ainda têm alguma saúde financeira e estão, como se diz, com o nome limpo.
Endividando, em menos de uma década, mais de um quarto da população brasileira (57 milhões), conforme constatou o Serasa.
Consequência da cumplicidade entre financeiras e lojistas que induziram, irresponsavelmente, os consumidores a assumir créditos com juros elevados e  embutidos nas famosas “dez prestações sem juros”.
Os consumidores, especialmente os de baixa renda, descobriram, intuitivamente, que foram induzidos a cair nos corredores poloneses do crédito imposto pela aliança entre as financeiras mais agressivas e as lojas ou redes, suas cúmplices.
Caíram na armadilha quando consumiram para satisfazer a demanda altamente reprimida e até atingir os limites insustentáveis de inadimplência. Que incomoda tanto o lojista quanto o cliente.
Mas a demanda reprimida está satisfeita. E coincide com a renda familiar superada pelo montante de dívidas contraídas. O que obriga esses consumidores, por pura necessidade, a priorizar o pagamento das prestações assumidas.
O que fazer?
É hora de humanizar, de novo, o relacionamento entre lojistas e clientes. E resgatar para a análise de oferta de crédito ferramentas que agilizam o processo mas que incorporem na decisão final as expertises humanas, com conscientização, integração e ajuste da oferta de crédito à real capacidade de pagamento das dívidas assumidas.
O que levaria a incorporar na decisão final da oferta de crédito o ponto de vista (e os interesses) do lojista. Ou seja, voltar ao básico de toda e qualquer venda: se lembrar sempre que estamos tratando com gente. Tanto do lado do lojista quanto do lado do cliente. E que a harmonia entre os dois interesses, intermediado pelas financeiras, é que garante os círculos virtuosos de nossa economia.



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