Celso Amâncio |
Em
recente análise sobre a pobreza recente da classe média (ou seja, os consumidores
populares que chegaram recentemente ao mercado), com o título “Mais pobre,
classe média sente retrocesso no perfil de compra”, texto publicado pelo jornal
“Valor Econômico” coloca novos desafios aos gestores de redes de varejo.
Segundo o texto, a mudança de hábitos de compra tem o seguinte perfil: “Depois
da troca de marcas mais caras pelas mais baratas e substituição de produtos, há
diminuição da frequência de compra de alguns produtos, sem necessariamente
substituição por itens equivalentes”. A reportagem se baseou em dados de
pesquisas de consultorias como Kantar, Data Popular e Nielsen.
A crise está instalada
Ou
seja, a crise está instalada. O ritmo de consumo se reduzirá, com maior
espaçamento nas compras. E pela troca de mercadorias mais caras pelas mais “em
conta”.
O
que fazer numa situação dessas?
Celso
Amâncio, presidente da Agência Consumidor Popular, que por 29 anos surfou em
diversas crises semelhantes, quando era diretor de crédito na Casas Bahia, tem como mantra: “nas crises, o melhor investimento é voltar ao básico e
restabelecer as alianças com os consumidores”.
Como
assim?
Voltar ao básico, rapidamente
Segundo
Celso Amâncio, com a aparente explosão do poder de compra dos consumidores
populares, que na verdade refletiu apenas uma adequação rápida à oferta represada de
bens e serviços para uma população carente ao longo de várias décadas, grande parte das
redes de varejo e lojistas descuidaram do atendimento dessa nova clientela.
“Ao confiarem na 'financeirização' do fluxo de vendas, não
investiram em treinamento porque não consideraram importante estabelecer
relacionamentos permanentes com essa população”, diz Celso Amâncio. Agora, na
crise, a grande lição que eventualmente poderá ser aprendida é valorizar cada
cliente que entra nas suas lojas.
Porque
suas necessidades básicas continuarão a existir com ou sem crise, que no caso atual deve se alastrar por dois anos ou
mais. E as lojas ou redes que eventualmente venham a se vincular emocionalmente
com parte desses consumidores, terão mais facilidade de sobreviver à atual
crise.
Treinar dignidade e respeito
“É o
momento adequado de os donos de lojas
lojista e os gerentes de redes descobrirem, quem sabe, que vale à pena
treinar seus funcionários para tratar com dignidade e respeito, cada um dos
clientes que visitem a loja, independente da raça, do regionalismo e da roupa
que veste”.
É
dessa aliança que emergirá as novas empresas de varejo no pós-crise, completa o
presidente da Agência Consumidor Popular. “Que aprenderão a estabelecer
alianças sólidas, como as que criamos na Casas Bahia, sob a batuta de Samuel Klein, e que nos
ajudaram a transpor as diversas crises que nos tornaram cada vez mais fortes”,
lembra Celso Amâncio.